Ela sabia dos perigos que corria
quando decidiu fugir de casa naquela noite fria de novembro. Sabia que tudo mudaria
naquele instante, e que sua decisão havia sido tomada em um momento de
desespero. Mas não voltaria atrás, ela precisa encontrar a pessoa que ela mais
amou na vida, mas que lhe foi roubada.
Sua família nunca lhe foi
completamente sincera quando se tratava daquele assunto, sempre lhe escondiam
os pequenos detalhes da história. Ela não lembrava muito bem o que tinha
acontecido, mas sabia que nada do que lhe falavam era a completa verdade.
Mas naquele momento nada
importava, já que não a haviam ajudado ela ajudaria a si mesma, e não importava
que esse caminho lhe trouxesse inúmeros perigos desconhecidos, ela enfrentaria
tudo apenas pra receber aquele abraço novamente.
Com uma pequena mochila em suas
costas ela partiu rumo ao que ela considerava ser o caminho pra sua maior
conquista. Caminhou durante dias antes de encontrar alguém que a pudesse ajudar
verdadeiramente. Um senhor que aparentava uma idade bem menor do que realmente tinha.
Ele lhe disse que a sua busca teria
fim após alguns dias, ele deveria seguir rumo ao norte para que pudesse
encontrar o que tanto desejava. E depois de dadas as instruções ele lhe aconselhou
a não desistir em nenhum momento. Mesmo com uma informação tão superficial de
alguém que não passava muita confiança ela seguiu suas instruções, e pensou que
se realmente existisse feiticeiros, aquele seria um bom candidato a tal cargo.
Após alguns dias do encontro com
o não feiticeiro, ela encontrou uma casa com um jardim repleto elfos, e viu que
ali poderia morar alguém que lhe desse um pouco de comida pra continuar sua
jornada que já durava uma longa e exaustiva semana.
Ao bater na porta uma senhora com
belos olhos lhe olhou por um instante antes de perguntar o que ela desejava, e
ao saber da necessidade da tal garota ela lhe ofereceu um pouco do que parecia
ser o almoço naquele dia. Ela aceitou de bom grado a oferta da senhora e continuou
seu trajeto se sentindo cada vez mais próxima ao seu objetivo.
Quanto mais se passavam os dias,
mais ela percebia que suas forças estavam se esvaindo, mas se recusava a
desistir sabendo que estava tão perto. Ela precisava daquilo. Levantou
lentamente da calçada na qual dormiu na noite anterior e com seus pequenos
olhos ela encarou o horizonte que a aguardava com anseio depois de tantos dias,
e então se deu conta de que nem mesmo sabia onde estava, e isso a fez abrir um
largo sorriso sem ela nem mesmo saber o porquê.
Respirou fundo e correu como se
sua vida dependesse daqueles passos que consumiam o que restava de suas forças,
enquanto as lágrimas percorriam todo seu rosto ela apenas continuou, se
entregando cada vez mais as lembranças de quando sua irmã mais velha partiu sem
ao menos se despedir dela. Foi um daqueles dias que começam avisando que darão
errado independente do quanto você tente melhorá-lo.
A mulher na qual ela se espelhara
havia partido sem ao menos olhar para trás, e durante todos aqueles anos ela
sempre pensou que era o motivo de sua irmã ter partido. Mas há duas semanas ela
descobriu o real motivo, e foi isso que a fez sair de casa no meio da noite em
busca do seu lugar seguro.
Ela parou a poucos metros de sua
irmã que estava sentada na beira de um rio sozinha. Ainda ofegante ela caminhou
até se aproximar o suficiente para que sua irmã pudesse saber que alguém estava
ali.
Sua irmã levantou-se e a encarou
pelo que pareceram horas, sem acreditar no que estava vendo. Depois de tantos
anos longe ela não imaginou que sua irmã mais nova fosse ao seu encontro algum
dia. Sem saber muito que fazer ela apenas chorou enquanto observava a mulher
que sua irmã havia se tornado. Mas antes que pudesse falar algo, aquela que
encarou todos os perigos do mundo para poder vê-la novamente começou a falar
tão rápido que era quase impossível entender o que saia de sua boca.
“Eu sei por que você foi embora e
também sei que não fui o motivo de isso ter acontecido. Você era minha única
família, mas você me deixou porque pensou que de alguma forma eu não a amaria
mais. Você tem ideia do quanto isso me
machucou? Eu não tinha pra onde ir, nem com quem conversar nossos avós nem me
deixavam mencionar o seu nome.
Eu sempre achei que você
voltaria. Toda noite antes de dormir eu ficava perto da janela esperando que
você voltasse pra levar junto. Mas você nunca voltou, e eu tive que crescer
sozinha porque a minha única irmã foi embora. Mas eu sei que se pudesse você
não teria me deixado, por isso eu nunca parei de pensar em você, eu sabia de
onde quer que você estivesse você estaria cuidando de mim, me guiando como
sempre fez.
Mas agora eu estou aqui, e não
vou deixar você, por que irmãs precisam ficar perto uma da outra, não importa
porque nem como, só precisam. Então ficarei aqui ou irei para qualquer outro lugar que você vá. Porque agora
eu me tornei uma mulher como você, e posso te proteger como você me protegeu
por tantos anos.”
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