Já passa das quatro da tarde, pego meu cobertor
e uma xícara de chocolate quente enquanto caminho até minha varanda. Sento-me
em minha poltrona favorita enquanto observo o mar dançando com toda sua beleza,
refletindo a luz do sol que aos poucos começa a se pôr, tocando uma canção que me
é tão familiar. A maresia inunda meu
olfato e um sorriso surge em meu rosto.
Recordo-me que anos atrás eu não
costumava ficar sentada em poltronas enquanto observava o mar. Eu gostava de
sentir meus pés na areia, de correr sem rumo enquanto minha irmã tentava de
todas as formas resgatar sua caçula que vivia feliz demais.
Depois de um dia repleto de
aventuras na praia ela me levava de volta pra casa, tomávamos um banho que na
época era tão divertido quanto correr na praia, e dormíamos por horas sem
nenhum tipo de preocupação.
Quando acordávamos com o sorriso
encantador de nossa mãe descíamos as escadas quase nos jogando no último degrau,
vivíamos em uma eterna competição de quem chegava primeiro em tudo, ela sempre
ganhava, e quando eu ganhava era porque ela tinha deixado, pra me fazer mais
feliz.
Depois do jantar eu ficava dentro
do quarto dela por um bom tempo, ela nunca foi uma irmã chata. Sempre me
deixava passar boa parte da noite com ela, e sempre me mostrava os livros novos
que tinha na prateleira, e sempre me contava como era uma festa de verdade, com
todos aqueles adolescentes reunidos em só lugar, prontos para destruir tudo.
Certa vez ela pediu que eu
fechasse os olhos e colocou seu headphone em meus ouvidos enquanto a música
começava em seu ritmo compassado. Nirvana, lithium era essa a música. Quando abri
os olhos com a música ainda tocando alto o suficiente para que ela escutasse sem
precisar colocar o headphone, vi que ela me encarava e dublava a música de
acordo com as palavras de Kurth Cobain.
Agora, sentada aqui e observando
toda essa paisagem iluminando cada parte dos meus olhos, consigo enxergar o
quanto tive uma infância mágica. Era exatamente isso que parecia naquela época
e é exatamente assim que se parece agora.
Nem sempre pude ter o que queria,
mas sempre tive o que precisava, e devo grande parte disso a minha mãe a minha
irmã, que fizeram da infância uma das épocas mais especiais da minha vida.
“O que você está fazendo ai?” levanto
os olhos para ver que minha irmã se juntou a mim na varanda e começa a observar
o mar como eu. “Lembrando” respondo, e ela sorri. Depois de tantos anos juntas
não são necessárias muitas palavras pra ela saber exatamente o que estou
falando.
“Isso é um pouco nostálgico não
acha? Ficarmos sentadas aqui observando essa praia?” Faço que sim com a cabeça,
e uma lágrima desce pelo meu rosto. Então ela levanta e diz “eu vou chegar
primeiro” e sai correndo rumo a praia, enquanto eu jogo o cobertor de lado e
saio apressada correndo logo atrás dela, pode ser que ela me deixe ganhar.
Pena & Tinta é um projeto de escrita criativa com o objetivo de criar textos (crônicas, contos, poesias, relatos pessoais etc) mensalmente em cima de um tema predeterminado. O tema de junho foi Nostalgia, e se você quiser participar, é só acessar o grupo no Facebook :)
Ai, que nostalgia gostosa. De todos os textos do Pena já postados esse mês até agora, acho que o seu foi o único que retratou uma lembrança boa e isso é muito bom, né?
ResponderExcluirConsegui me colocar no seu lugar enquanto lia, me vi na praia, nas escadas. Tá ótimo (:
Beijo
www.blogrefugio.com
No começo fiquei com o coração apertando pensando no pior, mas não tem final melhor do que esse que você escreveu! Também me lembrei da minha infância, especialmente nas praias com os meus irmãos! Como a Ceci disse, é uma nostalgia muito gostosa! <3 E amei esse trecho: "nem sempre pude ter o que queria, mas sempre tive o que precisava" Bjos
ResponderExcluirTici | www.bibliophiliarium.com