Já fazia tempo que os pedaços dela não se
espalhavam pelo chão de quarto. Há quanto tempo ela havia permanecido ali? Uma
duas semanas? E tudo porque todos se recusam a enxergar a realidade através das
palavras mencionadas por ela.
Ninguém realmente sabia o que se passava
por dentro daquela mente genial, e cheia de idéias, ninguém nunca realmente se
importou verdadeiramente, será que se importariam agora que ela conseguiu uma
conclusão pra tudo? Provavelmente não, eles nunca se importaram, apenas em
momentos mais convenientes, nesses momentos sim ela fazia diferença. Mas
enquanto lágrimas rolavam pelo seu rosto, eles estavam animados comemorando
algo para o qual ela nem mesma foi convidada.
Quando aquilo começou? Ela não
sabia responder, desde que lembrava sua vida era assim, sem família, sem
amigos, sem ninguém, e nem mesmo ela entendia como havia chegado até ali. Tudo sempre foi tão confuso que muitas vezes
ela imaginou ter chegado ao auge da loucura, mas definitivamente o auge era
aquele momento.
Seus olhos pesavam enquanto seu
corpo cedia ao cansaço causado pelas lágrimas. Quantas vezes ainda seriam
necessárias pra que alguém visse que ela precisa daquilo que as pessoas
costumam chamar de paz.
Depois de algum tempo tentando
colocar seus poucos pedaços no lugar, ela decidiu que levantar poderia trazer
um pouco de conforto. Seus olhos nem mesmo conseguiam distinguir as cores, é
verdade que sua vida mais parecia uma grande escala de cinza, mas por um
segundo ela imaginou que seria capaz de enxergar algo diferente.
Colocando os cotovelos apoiados
em seus joelhos e sua cabeça nas mãos, ela chegou que aquilo precisava seguir
por uma nova correnteza (é assim mesmo que se fala?) pensou ela. Não fazia
diferença. Aquele seria o momento que seu quarto minúsculo deixaria de ser sua
casa.
Levantou-se de sua cama, recolheu
seus poucos pertences e partiu pela porta que a separou das pessoas por tantos
anos. Será que ainda tinha tempo de mudar algo em sua vida? Disso ela não tinha
certeza, mas algo dentro de sua cabeça dizia que ela deveria tentar.
Fechando a porta ela seguiu por aquela rua sem
cor e cheia de pessoas das quais ela não conseguia enxergar nem mesmo a
fisionomia, talvez tanto tempo fugindo daquele mundo a tivesse roubado lembranças
que pudessem ajudá-la a lidar melhor com tudo aquilo.
Respirando fundo ela pôs sua
mochila nas costas e caminhou rumo ao desconhecido, na esperança de manter o
que restava dela mesma, e talvez conseguir recuperar todos os outros pedaços
que ela havia perdido durante todos aqueles anos. Isso seria possível? Algo
dizia que sim.
Além disso aquela voz que sempre
a acompanhou em seus anos de solidão lhe dizia que ela precisava encontrar algo
chamado amor, e mesmo sem saber o que era aquilo, ela soube que se o
encontrasse sua vida teria um novo sentido, e talvez ganhasse um novo fim.
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