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Angel's Journal [1]


Já  fazia tempo que os pedaços dela não se espalhavam pelo chão de quarto. Há quanto tempo ela havia permanecido ali? Uma duas semanas? E tudo porque todos se recusam a enxergar a realidade através das palavras mencionadas por ela.

Ninguém realmente sabia o que se passava por dentro daquela mente genial, e cheia de idéias, ninguém nunca realmente se importou verdadeiramente, será que se importariam agora que ela conseguiu uma conclusão pra tudo? Provavelmente não, eles nunca se importaram, apenas em momentos mais convenientes, nesses momentos sim ela fazia diferença. Mas enquanto lágrimas rolavam pelo seu rosto, eles estavam animados comemorando algo para o qual ela nem mesma foi convidada.

Quando aquilo começou? Ela não sabia responder, desde que lembrava sua vida era assim, sem família, sem amigos, sem ninguém, e nem mesmo ela entendia como havia chegado até ali.  Tudo sempre foi tão confuso que muitas vezes ela imaginou ter chegado ao auge da loucura, mas definitivamente o auge era aquele momento.

Seus olhos pesavam enquanto seu corpo cedia ao cansaço causado pelas lágrimas. Quantas vezes ainda seriam necessárias pra que alguém visse que ela precisa daquilo que as pessoas costumam chamar de paz.
Depois de algum tempo tentando colocar seus poucos pedaços no lugar, ela decidiu que levantar poderia trazer um pouco de conforto. Seus olhos nem mesmo conseguiam distinguir as cores, é verdade que sua vida mais parecia uma grande escala de cinza, mas por um segundo ela imaginou que seria capaz de enxergar algo diferente.


Colocando os cotovelos apoiados em seus joelhos e sua cabeça nas mãos, ela chegou que aquilo precisava seguir por uma nova correnteza (é assim mesmo que se fala?) pensou ela. Não fazia diferença. Aquele seria o momento que seu quarto minúsculo deixaria de ser sua casa.
Levantou-se de sua cama, recolheu seus poucos pertences e partiu pela porta que a separou das pessoas por tantos anos. Será que ainda tinha tempo de mudar algo em sua vida? Disso ela não tinha certeza, mas algo dentro de sua cabeça dizia que ela deveria tentar.

Fechando a porta ela seguiu por aquela rua sem cor e cheia de pessoas das quais ela não conseguia enxergar nem mesmo a fisionomia, talvez tanto tempo fugindo daquele mundo a tivesse roubado lembranças que pudessem ajudá-la a lidar melhor com tudo aquilo.

Respirando fundo ela pôs sua mochila nas costas e caminhou rumo ao desconhecido, na esperança de manter o que restava dela mesma, e talvez conseguir recuperar todos os outros pedaços que ela havia perdido durante todos aqueles anos. Isso seria possível? Algo dizia que sim.


Além disso aquela voz que sempre a acompanhou em seus anos de solidão lhe dizia que ela precisava encontrar algo chamado amor, e mesmo sem saber o que era aquilo, ela soube que se o encontrasse sua vida teria um novo sentido, e talvez ganhasse um novo fim.

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